7/04/2006

Quintana...















As crianças, os poetas e talvez esses incompreendidos, os loucos, têm uma memória atávica das coisas. Por isso julgam alguns que o seu mundo não é propriamente este. Ah, nem queiras saber... Eles estão neste mundo há muito mais tempo do que nós.

Ah, esses olhares passeando, incômodas moscas,
Sobre a calma forçada da face dos mortos.
Poupai-me, amigos, tal humilhação
Ou, senão,
Pintai sobre a minha face morta,
De orelha a orelha

Em vermelhão
Um silencioso, um debochativo sorriso de clown...
Aí podereis vir todos encarar-me então,
Curiosos, repugnantes vivos!

Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...
Eu tenho um medo
Horrível
A essas marés montantes do passado
,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...
Ai de mim,Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!

O mundo, às vezes, fica-me tão insignificativo
Como um filme que houvesse perdido de repente o som
.
Vejo homens, mulheres: peixes abrindo e fechando a boca num aquário.
Ou multidões: macacos pula-pulando nas arquibancadas dos estádios...
Mas o mais triste é essa tristeza toda colorida dos carnavais
Como a maquilagem das velhas prostitutas fazendo trottoir.
Às vezes eu penso que já fui um dia um rei, imóvel no seu palanque,
Obrigado a ficar olhando
Intermináveis desfiles, torneios, procissões, tudo isso...
Oh! Decididamente o meu reino não é deste mundo!
Nem do outro...


Trechos de Mário Quintana... Ele é mto fera... os trechos acima não precisam nem de comentário... e nem de palvras sobre meus eus, minhas coisas e sobre a vida...


Foto: eu lua cheia, Ca, Bia e Jé... comentários dispensáveis sobre as moçinhas tb...

Um comentário:

Bárbara Amelize disse...

Os trechos não precisam de comentários... mas, enfim...como estou com sono e viajei de novo, lendo de novo este post (sim... é a segunda vez que o leio).. rsrsr vim falar dele. As marés do passado também me assustam. E por isso mesmo, estou tentando o máximo ficar longe delas... longe da correnteza que sei que vai me levar novamente para um lugar onde meu barco vai afundar.

Tem horas que é exatamente assim que vejo o mundo... como um filme sem som. Nada faz sentido. E quando digo nada, digo nada mesmo.. nascer, viver... estar no meio desta bagunça toda. As vezes, eu me pego pensando... por que? pra que? Nao me conformo com tantas coisas e as vezes fico triste de não conseguir muda-las. Minha sensação de impotência é minha pior inimiga. Nunca sei muito bem lidar com ela. Queria ter mais respostas... respostas para minhas dúvidas, para as suas, para o do mundo. Pensamento gigantesco demais, né?! Mas, é o que sinto.. e quando me vejo diante de algo que não tem sentido... que não consigo encontrar o porque, me vejo assim... como o vento vindo contra o cais... um nada... silêncio! Sem dor... sem amor!

Nossa.. eu to bebada de sono! Nao repare estes comentários loucos!

Baci